top of page

Suíte Tóquio


de Giovana Madalosso

Editora Todavia - 2020



"Mãe, quer me ver nadar? Quer me ver correr daqui até aquele muro? Cortar esse mamão com a faca? Enfiar essa batata frita inteira na boca? Mergulhar na banheira? Quer me ver fazendo um rolinho com a língua? Piscando só com um olho? Quer me ver vestida de pirata? Duvida que eu suba a escada de dois em dois, mãe?(...)

Olha pra mim dançando. Olha pra mim pulando do sofá.

Olha, olha, olha.

Olha pra mim, mãe."


Quem fala é a Cora, de 4 anos, personagem de Suíte Tóquio. A Cora faz como as crianças da sua idade, chama a mãe querendo mostrar suas pequenas grandes façanhas. Mas Fernanda tem dificuldades de olhar para a pequena. Já Maju, a babá da Cora, não: ela olha muito para sua "Picochuca". E um dia, ao se ver ameaçada de perdê-la, ela rapta Cora.


Giovana Madalosso foi genial ao escrever esse romance. Ela aborda diversos temas muito complexos: as relações entre as mães, suas crianças, suas babás, entre as babás e as crianças e suas mães. E aí entram em jogo as questões sociais que sustentam e permeiam esses laços íntimos e intensos. As perguntas que passam a nos habitar com a leitura do livro são várias, este é um dos grandes méritos de Suíte Tóquio.


A potência está tanto na engenhosidade do enredo, quanto na narrativa. As vozes das protagonistas Fernanda e Maju se alternam. Desse modo, sabemos que, mesmo longe dos pais, Cora está bem - o que diminui um pouco nossa angústia. O uso do humor também é um recurso precioso, Maju é cativante, dona de um modo de ver a vida encantador, e usa metáforas engraçadíssimas. Maju (Giovana) suaviza a leitura e o desenrolar dessa situação que coloca a todos no limite - personagens (e leitores) vão repensando e repassando a vida, pois tudo fica em suspenso, tudo adquire outro sentido.


Talvez por isso eu tenha escolhido ressaltar o trecho em que Cora pede que a mãe olhe - pois quando as crianças pedem para ser olhadas, pedem que a vida seja colocada em suspenso em nome da existência delas. Não é uma tarefa fácil. E toda a mãe cansa de olhar seu rebento. E isso não significa que não o ame, mas só que elas têm limites - limites que elas não escolhem, e que muitas vezes desconhecem até tornarem-se mães. O que torna uma mulher mãe? O que é uma mãe?


É um tema e tanto. É um romance e tanto.




Publicada em agosto de 2021, no Instagram.



Comments


bottom of page