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Vozes de retratos íntimos

de Taiasmin Ohnmacht

Editora Taverna - 2021



Taiasmin Ohnmacht abre seu Vozes de retratos íntimos convidando a uma leitura que seja embalada pela escuta da voz. E avisa que não sabe dizer o que se tornará essa narrativa, ela espera que algo se desenhe a partir da imaginação dela mesma, e de quem lê. O convite é bem-vindo, pois ao percorrer a história que ela conta, desenhei uma árvore genealógica que me orientou. Ao finalizar a leitura, retomei o começo do livro, e a proposta da escritora fez muito sentido.


Me deixei levar pelas páginas dessa história, que é toda híbrida: mistura autobiografia com ficção, história do Brasil com a história da família da narradora, imigrantes brancos e pretos. A pesquisa feita pela autora foi sem dúvida importantíssima para a construção desse romance. O tema central da trama é a relação interracial: a narradora é filha de um homem branco e uma mulher negra. A partir de poucas fotografias da família, ela constrói sua genealogia, preenchendo com a imaginação o que se ausenta, dando voz a esses retratos íntimos. "As imagens precisam ser contadas", diz.


Através da contação, que em muitos momentos se aproxima das escrevivências de Conceição Evaristo, ela equaciona o enigma que havia em torno de seu nome:


"Como todos os descendentes de povos africanos, nós também não sabemos de qual etnia ou região da África vieram nossos ancestrais, e não temos nenhuma outra referência de sobrenome que não seja o do colonizador. Vó Benedita da Motta Adderley e vô João Felipe Adderley vão me ensinando que é necessário ousadia com o passado, que herança não pressupõe fidelidade, mas pode ser matéria para o sonho. Adderley agora é um sobrenome negro. Assim tomo Ohnmacht em minhas mãos e descubro nele um desejo de escurecimento, pois o olhar do meu pai foi mais preciso que suas palavras. Não sinto mais Ohnmacht estrangeiro em mim, nem me sinto estrangeira nele, tampouco é um enigma como foi para meu pai. E como Exu que acerta um pássaro ontem com uma pedra que atirou hoje, quando assumo Ohnmacht assumo ao mesmo tempo passado e futuro."

Um livro que é uma elaboração. Um presente da Taiasmin. Obrigada, querida.



abril de 2022




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