Porque hoje agosto chega ao meio, e já é muito tempo: o ano passou da metade, e não voltas. Não voltas e não vais voltar. Porque não há mais razões para te esperar, nem sequer para desejar que voltes. Porque já faz tempo que foste e mais tempo ainda que vieste. Às vezes ainda deslizas e te fazes notar, provavelmente quando temes ser esquecido – ou talvez só por lembrares da minha existência; e então fazes o que sentes, como gostavas de dizer. Fazer o que se sente pode ser bom para quem faz, mas nem tanto para quem é afetado pelo fazer. É preciso considerar o outro nesse ímpeto sentimental. Temo que tenhas perdido essa aula.
Porque agosto já vai ao meio, e há pouco te enviei um conto que escrevi, pedindo tuas observações de leitor assíduo, e me disseste: “É perfeito, mas falta equilíbrio. Falta a boa história ou o fluxo de consciência. É burocrático, e muito curto.” (É, escrevo curto.) Acolho tua leitura, sinceramente. E me ocorre que talvez tenhas me visto assim, perfeita mas sem equilíbrio ou fluxo de consciência. Porque talvez tenha sido contigo que mais me equivoquei ao me mostrar. Pensei que te mostrava o meu essencial, enganada. Continha-me, só me ocupava de ti. Escondi o melhor de mim, as vastas emoções e pensamentos imperfeitos. Meus sentimentos. Perdi, perdemos. Perdeste.
Agosto chega ao meio, e já me ocupei de ti tempo o bastante. Tempo demais. Porque ainda te amo, mas isso já não importa. Porque também amo a mim, e a outras pessoas. Porque é domingo, e ainda é agosto, mas setembro está a caminho. Porque só isso não falha nessa vida: o passar dos dias.
2021/2022
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