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Camarote



Eram cinco horas da manhã quando o barulho do choque foi ouvido – naquela curva sinuosa, os pneus marcavam o asfalto com frequência, os carros arrastados pelas freadas em alta velocidade. E como os freios não davam conta do recado, o veículo parava no final da curva. No poste.


Quando Miguel saiu animado para ocupar o camarote reservado na semana anterior, contava com uma noite de festa comum: encontraria os parceiros, beberia muito espumante e dançaria até se acabar. Com sorte encontraria alguma mulher interessante para voltar para casa com ele. Quem sabe até a Sandra? Fazia tempo que ela não aparecia na noite. Mas se tivesse sorte ela estaria lá, e com saudades dele. Trocariam beijos, carícias, ele lhe diria as palavras de sempre, e ela se derreteria toda. Como sempre. Sandra. A carinhosa e divertida Sandra.


Miguel festejava erguendo sua taça. O espumante não estava bem gelado. Não via Sandra. O DJ não era dos melhores, Miguel dançava sem vontade. Nada da Sandra. Quem não tem cão caça com gato. Só pegou a Celina. Mas ela não quis ir pra casa com ele, estava mais interessada na Marina. Miguel não acordou naquele domingo como contava: ao meio-dia, enroscado na Sandra, com aquela dor de cabeça e o gosto de cabo de guarda-chuva. Sorte da Celina. E da Sandra.



maio de 2022

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