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Experimenta, independente de estar certo ou errado (ou: o texto te espera no papel, no teclado)


Para começar, mulher, não existe certo e errado na nossa escrita. Se for para falar em certo e errado, sugiro que a gente pense que se tu tem vontade de escrever, é esse o certo. E o errado? É não tentar, não te arriscar nisso que é da tua vontade. Por isso a dica é: experimenta.


Observa qual superfície tu prefere usar, porque tem quem prefira caneta ou lápis riscando o papel, tem quem goste do toque no teclado fazendo surgirem palavras na tela. Pode ser difícil começar: o papel ainda virgem e sem relevo ou a tela em branco às vezes nos inibem. É natural, é como fazer sempre pela primeira vez um movimento desconhecido. Praticar ajuda a soltar essa trava. O horário de escrever também pode variar. De tanto tentar, eu descobri que prefiro as manhãs, onde minha cabeça parece estar mais vazia depois da faxina que o sono faz nela. (Mas cada uma faz de um jeito, e é um pequeno desafio descobrir o teu).


E por falar em cabeça vazia, agora vem o que me parece o mais importante da dica: a conversa da cabeça com a escrita. A gente costuma ter alguma ideia, e quando chega o momento de escrever supõe que isso que está na cabeça vai surgir como texto, mas nem sempre acontece assim. Porque pensar é muito diferente de escrever. É como se uma espécie de magia acontecesse quando o texto vai tomando forma, e ele não mostrasse como a gente o imaginou. E tá tudo bem, porque algo do texto tem vida própria, ele só pertence ao nosso pensamento até o momento das mãos executarem sua dança. É como se o nosso pensamento fosse música que as mãos dançam, e o texto é o resultado da relação entre a música e a dança. Assim, não te apavora se o que tu lê tem vida própria, não tenta controlar essa relação tão bonita, esse efeito. Porque a riqueza do teu texto mora justamente no movimento solto dessa combinação, e é lindo ficar surpresa com o que tu é capaz de escrever. Te permite essa surpresa, mesmo que pareça estranho ou sem sentido. Experimenta.




Publicado na coletânea “De dentro para fora: dicas para mulheres que escrevem”, selo TodAs EscreVemos (setembro de 2022)


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