Nesse ano li dois dos livros do norueguês Jon Fosse.
O primeiro foi É a Alles, um livro belíssimo, de uma escrita hipnotizante e inebriante, assim como o são as imagens que ele descreve. Ler É a Alles é estar na Noruega, dentro da casa dentro da cidade branca e gélida, dentro da cabeça de Signe e de Ales, dentro da história que se passa hoje, e também antes, muito antes. É um livro curtinho e imenso, uma leitura daquelas em que a gente precisa se deixar levar confiando no escritor - e Jon Fosse nos conduz por essa experiência tão difícil de produzir, e que se torna excepcional quando encontramos uma escrita primorosa como a dele.
O segundo foi Trilogia, que também é algo hipnótico, mas de outra maneira: por ter mais personagens, por ter mais deslocamentos, mais lugares... ele é menos intimista, talvez. Fosse enreda o leitor numa história à maneira de Kafka em O processo ou O castelo. Quando percebemos, estamos às voltas com bares em que conversam pessoas desconhecidas, mercados labirínticos, crimes apenas aludidos, personagens improváveis que aparecem e desaparecem da história sem prévio aviso. O escritor faz tudo isso e, de quebra, joga com as palavras, repetindo-as, produzindo com isso algo difícil de nomear, mas que eu diria ser algo como: repetição-cadência-reencontro-angústia. Ciclicamente. E de novo. Curiosamente envolvente. Ou, de novo: hipnótico.
Jon Fosse foi prêmio Nobel de literatura no ano passado - e não à toa.
Os dois livros têm tradução de Guilherme da Silva Braga.
novembro de 2024
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