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Julia Dantas




Nesse ano li dois livros da escritora gaúcha Julia Dantas, e venho aqui indicar essas leituras. A Julia tem um texto fluido, e faz tão boa companhia à pessoa que lê que dá vontade de ficar com ela, com a história que ela conta. Ela se chama Rodolfo é a história de um sujeito em busca de alguém que cuide de uma tartaruga abandonada; A mulher de dois esqueletos narra o momento de vida de uma escritora inicialmente na pandemia, e em seguida às voltas com ter ou não filhos.


As duas histórias são contadas com leveza, e trazem temas indispensáveis sobre nossas relações uns com os outros, como preconceito, violência, solidariedade, abandono. Julia tem a habilidade de tecer suas narrativas com uma crítica perspicaz do nosso tempo, mas não numa exploração explícita: elas são visíveis na obliquidade. Essa é uma das grandes qualidades da escrita da Julia. A segunda é sua inventividade, que se mistura na narrativa do cotidiano, conferindo prazer à leitura. Em A mulher de dois esqueletos, por exemplo, ela oferece a quem lê os devaneios da narradora/escritora, que se distrai do texto que está escrevendo e deixa que dessa distração brote outro texto (num momento de espera, distraidamente escreve um conto). Me fez lembrar de Escritores criativos e devaneios, de Freud, texto onde tenta entender como funciona a mente dos escritores de ficção. Ali ele diz que o escritor de ficção fantasia como a criança enquanto brinca, e também que é muito difícil para nós abandonarmos algum prazer que já experimentamos. Ler a Julia é estar perto do cotidiano e da fantasia da criança, é devanear com a escritora. Por último, mas não menos importante, ela consegue trazer humor mesmo quando trata de temas sensíveis e delicados, como a pandemia. Sabemos como é difícil – e necessária – a presença do humor, que traz certa leveza ao peso dos dias.


Esses dois romances me fizeram boa companhia, me deixaram com vontade de ficar neles, em suas histórias, independentemente da curiosidade sobre seus desfechos. São fluidos, me deixei levar pela leitura. E me deram uma baita vontade de escrever – efeito que me deixa feliz à beça.


Obrigada, Julia!



novembro 2024

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