por Alejandro Zambra
tradução Miguel Del Castillo
Companhia das Letras - 2020
" - Pra mim, escrever é uma forma de voltar a um lugar onde nunca estive e que não conheço" A escrita de Alejandro Zambra me encantou desde meu primeiro encontro com ela, nos pequenos Bonsai e A vida privada das árvores, ficções breves. No seu poeta chileno, publicado em 2020 pela Companhia das Letras, ele se estende na prosa por 428 páginas, para satisfação dos leitores. É muito bom, prosa que proporciona uma leitura extremamente fluida, leve, sem perder a consistência, jamais.
Acompanhamos a história de Gonzalo, professor de literatura e poeta, autor de um único - e ruim - livro de poesia. A relação com seu enteado Vicente é a costura do texto, o tema da transmissão de um para o outro é trazido lindamente pelo autor, mas nem sempre de forma explícita. Ela é construída, como na vida. O presente da trama, é a pesquisa de Pru, uma jovem jornalista norte-americana que entrevista diversos poetas chilenos - o que nos dá um panorama divertido e emocionante desse mundo tão particular. Tudo isso permeado com muito humor: o nome da gata de Vicente é Oscuridad; Pru entrevista um poeta sem nome - que assim se manteve desde que, ao publicar seu primeiro livro, esqueceu de assiná-lo, e depois adota o recurso por pura vaidade. Zambra nos faz rir e também nos comove, e vamos de um estado emocional a outro sem prévio aviso.
"Então, talvez, se alguém a tivesse obrigado a decidir se estava apaixonada por ele ou não, ela teria dito que sim, ainda que fosse apenas para justificar suas decisões, sempre levemente obscurecida pelas dúvidas, o que soa um pouco mal, mas tudo bem, porque tudo é assim, em tudo há uma sombra."
Alejandro Zambra é um escritor e tanto, desses pelos quais nos apaixonamos e ficamos sempre à espreita do próximo escrito, na certeza de que teremos um bom encontro. Encontro que, como em poeta chileno, sempre se tem o desejo de que não acabe - como uma boa conversa na mesa de um bar, regada de afeto.
agosto de 2022
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