
Escolhemos o balcão voltado para o canal, nos surpreendemos ao perceber que as janelas sob ele estavam abertas, podíamos balançar as pernas para o lado de fora. Sorrimos, sapecas - imagina deixar cair o sapato lá embaixo? Reparo ao meu redor, curiosa. Tenho uma alegria infantil quando chego num lugar completamente novo - em alvoroço, a criança em mim atenta ao cardápio, aos enfeites, às pessoas, até ao banheiro. Tudo. Poderia fotografar cada detalhe, mas escolho me entregar – o melhor da vida resiste ao registro. Acolho o momento único. Isso me dá prazer, mas faz temer pelo fim. Estar com ela perto, deixando que me apresente seu mundo, conversando sem pressa. E lembro que há não tanto tempo era eu apresentando o mundo pra ela, e agora é a vez de ela fazer isso pra mim. Sinto aquele calor gostoso no peito, e a essa sensação me pede para aproveitar o durante. A pieguice me persegue, admito e assumo. O canal diante de nossos olhos é um desfile de meios de navegação os mais diversos, com tripulantes que vão desde esportistas em caiaques a grupos de turistas vestindo chapeuzinhos. Me impressiona que um canal assim estreito comporte tanto movimento. A vontade de viver o verão, num país tão ao norte do mapa, é contagiante. Observamos o movimento dos bares e cafés da beira do canal, que atendem os clientes desde suas embarcações. Deixamos passar a tarde assim, até ter vontade de andar... de balanço! Ela procurava como chegar num balanço para o canal, que tinha visto outras vezes em que visitou a cidade. O encontramos no andar de baixo de uma loja de objetos fofíssimos (preciso voltar lá). Cada uma de nós se balança, o corpo em direção às águas, friozinho na barriga. Não sou mais eu que empurro ela no balanço: embalamos uma a outra, duas adultas, cada uma trazendo a sua criança para brincar.
setembro 2024
Ciclos da vida Marieta. Fiquei emocionada. Um bom começo de primavera. Obrigada!